18/11/10

A cimeira da NATO e a segurança

Desde a semana passada que não se fala quase noutra coisa que não seja da cimeira da NATO e das medidas de segurança associadas.
Perigo de atentados terroristas, desacatos provocados por cidadãos anarquistas vestidos de preto e de cara tapada (erradamente designados por "Black Blocs", expressão que designa apenas uma táctica de manifestação e não um grupo), restrições profundas no trânsito da cidade de Lisboa, reposição do controlo de fronteiras, etc e tal.
É um facto que, concordando-se ou não com a cimeira e com quem a promove, e estando presentes os chefes de estado de alguns dos países mais poderosos do planeta, a segurança não poderia ser descurada e teria, obrigatóriamente, de ser apertada. Mas daí até aquilo que estamos a assistir diáriamente vai um grande passo.
Embora só no final da cimeira se possa fazer uma análise real da eficácia destas medidas, não posso deixar de sorrir com o balanço feito pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no que concerne ao controlo fronteiriço. Diz este serviço que, até às 10 horas de hoje, entre outras coisas, "Foram controlados nas fronteiras portuguesas 82,552 cidadãos", tendo sido efectuadas 11 detenções pelos seguintes motivos:
-"...4 detenções, das quais 2 por posse de arma branca, 1 por tráfico de estupefacientes e 1 por posse de arma proibida;
- ...5 detenções, das quais 4 por tráfico estupefacientes e 1 condução sem habilitação;
- ...2 detenções por uso de documento falso ou falsificado."
Perante isto, e assim de longe, parece-me que os meios são, um tanto ou quanto, desproporcionados. Para além de que não consta que nenhum potencial terrorista seja definido por andar com canivetes e charros e não ter carta de condução...
Mas diz ainda o SEF que, "No âmbito da operação em curso foram apreendidas, até ao momento, 5 armas brancas, 1 arma de fogo e diverso material anti-NATO e anti-policial". Quanto às armas nada a dizer, como é óbvio. Mas apreender material anti-Nato, anti-Policial ou anti-qualquer coisa, material este, que ao que consta, se traduzia em panfletos e/ou cartazes, já me parece um exagero, e isto para não falar em abuso de poder, coacção e um ataque à liberdade de expressão de qualquer cidadão.
Será que nas manifestações que estão previstas, e devidamente autorizadas, contra a NATO, a polícia irá andar...ao papel?