09/08/10

Os incêndios e a falta de acessos no alto das serras

Há anos que se vai travando uma "luta" com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que quando emite uma Declaração de Impacte Ambiental, vulgo DIA, com parecer "favorável condicionado" insiste em colocar como uma das condições à construção de um Parque Eólico (PE) ou de uma Barragem, o fecho incondicional de todos os acessos abertos para a construção dos apoios das linhas eléctricas, que, normalmente, são um projecto associado desse mesmo parque ou barragem. Noutros casos, a própria linha necessita de Estudo de Impacte Ambiental (EIA), conforme as características que a mesma possúa, e que estão devidamente legisladas, e a mesma medida lá continua bem escarrapachada. Nada a apontar a essa condição, que é correcta, desde que cada acesso (ou carreiro) seja analisado um a um.
E isto porquê? Façamos um enquadramento da situação:
1º) No caso dos PE, construídos em zonas na sua grande maioria inóspitas, com altitudes elevadas, e vegetação arbustiva e arbórea bem desenvolvida, é necessário construir linhas eléctricas desde a subestação desse mesmo parque até um ponto de entrega da energia produzida (uma outra subestação, normalmente da REN);
2º) Para colocar essas linhas, é necessário que existam apoios (vulgo postes), os quais são implantados ao longo do corredor dessa mesma linha eléctrica;
3º) Por norma, não há acessos para os locais desses apoios, sendo que o que é normal fazer é percorrer toda a zona a pé, piquetar os locais por onde irão passar os veículos de apoio à obra, e abrir um pequeno acesso (em largura), depositando as terras sobrantes ao longo desse mesmo acesso, de modo a ser posteriormente usada no fecho do mesmo e na recuperação ambiental da zona.
E aqui é que a "porca torce o rabo", porque, como em tudo na vida, há que ter sensibilidade e bom senso.
Realmente, na sua maioria, os acessos devem ser completamente fechados. Mas, também aqui, como tudo na vida, "não há regra sem excepção", com a agravante de neste caso existirem, ou deveriam existir, diversas excepções. A saber:
- Em certos zonas, as populações locais, idosas na sua grande maioria, costumam percorrer diariamente vários quilómetros para fazer o seu trabalho, quase sempre agro-pecuário. Com a existência de um pequeno carreiro, poupavam algumas horas no dia, muitos km nas pernas e dores nas costas de carregar fardos de palha;
- os promotores dos PE e o país, não perderia tanto em tempo, energia e dinheiro quando existe uma avaria a meio da rede eléctrica, tendo que abrir de novo os caminhos para chegar aos locais onde se situa(m) o(s) problema(s);
- Por último, mas mais imporrtante, esses carreiros serviriam, em primeira instância, como corta-fogos, constituíndo uma barreira à propagação das chamas, e num segundo plano, poderiam ser usados pelos bombeiros para chegar com os seus veículos de combate a locais mais próximos das chamas (como eles agradeciam...), evitando-se desta maneira (não tenho dúvidas absolutamente nenhumas), que ardessem alguns milhares de hectares a menos.
Mas não! nada disto se passa! Qual equino de palas, para a APA, TODOS os caminhos, carreiros e carreirinhos são para fechar. De nada servem pareceres dados, estudos efectuados, análises locais feitas "ao metro", abaixo-assinados das populações via respectivas juntas de freguesia. Nada. Nada serve.
E o resultado é este: Milhares de hectares ardidos, populações com o seu ganha-pão ameaçado, animais sem pastagens, mamíferos, répteis e outros carbonizados. Quem sabe, se até a vida de algum bombeiro não poderia ter sido poupada.
E tudo isto porque não deixaram ficar um pequeno caminho aberto...
É triste. Mas é verdade!!