18/11/10

A cimeira da NATO e a segurança

Desde a semana passada que não se fala quase noutra coisa que não seja da cimeira da NATO e das medidas de segurança associadas.
Perigo de atentados terroristas, desacatos provocados por cidadãos anarquistas vestidos de preto e de cara tapada (erradamente designados por "Black Blocs", expressão que designa apenas uma táctica de manifestação e não um grupo), restrições profundas no trânsito da cidade de Lisboa, reposição do controlo de fronteiras, etc e tal.
É um facto que, concordando-se ou não com a cimeira e com quem a promove, e estando presentes os chefes de estado de alguns dos países mais poderosos do planeta, a segurança não poderia ser descurada e teria, obrigatóriamente, de ser apertada. Mas daí até aquilo que estamos a assistir diáriamente vai um grande passo.
Embora só no final da cimeira se possa fazer uma análise real da eficácia destas medidas, não posso deixar de sorrir com o balanço feito pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no que concerne ao controlo fronteiriço. Diz este serviço que, até às 10 horas de hoje, entre outras coisas, "Foram controlados nas fronteiras portuguesas 82,552 cidadãos", tendo sido efectuadas 11 detenções pelos seguintes motivos:
-"...4 detenções, das quais 2 por posse de arma branca, 1 por tráfico de estupefacientes e 1 por posse de arma proibida;
- ...5 detenções, das quais 4 por tráfico estupefacientes e 1 condução sem habilitação;
- ...2 detenções por uso de documento falso ou falsificado."
Perante isto, e assim de longe, parece-me que os meios são, um tanto ou quanto, desproporcionados. Para além de que não consta que nenhum potencial terrorista seja definido por andar com canivetes e charros e não ter carta de condução...
Mas diz ainda o SEF que, "No âmbito da operação em curso foram apreendidas, até ao momento, 5 armas brancas, 1 arma de fogo e diverso material anti-NATO e anti-policial". Quanto às armas nada a dizer, como é óbvio. Mas apreender material anti-Nato, anti-Policial ou anti-qualquer coisa, material este, que ao que consta, se traduzia em panfletos e/ou cartazes, já me parece um exagero, e isto para não falar em abuso de poder, coacção e um ataque à liberdade de expressão de qualquer cidadão.
Será que nas manifestações que estão previstas, e devidamente autorizadas, contra a NATO, a polícia irá andar...ao papel?

19/10/10

Crónicas C'um Caneco - Dia 11

Depois de Rodolfo ter saído de sua casa, na companhia da lambisgóia da Vanessa – algemada – Eugénia andou em círculos pela sala. Sentia-se cansada e com falta de alguma coisa. Não sabia bem o quê. De algo forte, com alcóol, uma refeição digna desse nome e...e estranhamente de alguém que não o Tobias. Eugénia, deu com ela a pensar no Inspector e como seria agradável, bastante agradável até, fechar aquele Domingo, ao pôr-do-sol, na companhia de Rodolfo, e, já agora, de algo mais do que uma simples tosta mista.
Ao mesmo tempo, sentiu um esgar de dor no peito, ao lembrar-se de Tobias, que já não se encontrava neste mundo dos oprimidos. Não que estivesse a sentir a sua falta. Estranhamente não estava. E era isso que lhe gerava um sentimento de culpa. A intimidadva até. É que sempre que se lembrava do Tobias, via o Inspector. Estranha sensação esta. Afinal tinha conhecido Rodolfo apenas alguns pares de horas atrás.
Impulsionada pela fome, Eugénia saiu de casa batendo com estrondo a porta - que nem se fechou - desceu as escadas, e dirigiu-se até à tasca do Sr. Alípio. Pelo menos aí poderia enganar o estômago e pagar só quando tivesse algum. Boa pessoa, o Sr. Alípio. Tinha para com ela uma relação algures entre o parental e o conselheiro compreensivo.
Em apenas dois ou três minutinhos chegou ao estabelecimento. Não estava ninguém. Mas isso era normal, num fim de tarde de Domingo. A Gertrudes, mulher do Sr. Alípio, bem lhe dizia que não compensava ter a tasca aberta ao Domingo. Mas este preferia ali estar, mesmo que, durante a tarde, apenas meia-dúzia de velhotes lhe entrassem pela porta e se sentassem a jogar dominó. Ou uma bela suecada. E sempre se iam vendendo um copo-três, aqui e ali. Melhor dizendo: iam-se servindo uns copitos, pois toda aquela gente já lhe devia uma “pipa de massa”.
- Boa tarde Sr. Alípio! - Soltou Eugénia, já a fazer contas ao que ia pedir para enganar, mais uma vez, a fome. Um pires de escabeche, talvez. E uma buchazita. Sobravam sempre carapaus do almoço de sábado, e o Alípio fazia escabeche como ninguém. Sim, como ninguém. Afinal, a arte de marinar algo em vinagre e alho pode ter muito mais ciência do que possa, à primeira vista parecer. “Sr. Alípio, boa tarde!!”, berrou Eugénia de novo. Nada. Nenhuma resposta. Mas onde se teria metido o raio do velho, pensou...

Continua...um dia destes

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09/08/10

Os incêndios e a falta de acessos no alto das serras

Há anos que se vai travando uma "luta" com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que quando emite uma Declaração de Impacte Ambiental, vulgo DIA, com parecer "favorável condicionado" insiste em colocar como uma das condições à construção de um Parque Eólico (PE) ou de uma Barragem, o fecho incondicional de todos os acessos abertos para a construção dos apoios das linhas eléctricas, que, normalmente, são um projecto associado desse mesmo parque ou barragem. Noutros casos, a própria linha necessita de Estudo de Impacte Ambiental (EIA), conforme as características que a mesma possúa, e que estão devidamente legisladas, e a mesma medida lá continua bem escarrapachada. Nada a apontar a essa condição, que é correcta, desde que cada acesso (ou carreiro) seja analisado um a um.
E isto porquê? Façamos um enquadramento da situação:
1º) No caso dos PE, construídos em zonas na sua grande maioria inóspitas, com altitudes elevadas, e vegetação arbustiva e arbórea bem desenvolvida, é necessário construir linhas eléctricas desde a subestação desse mesmo parque até um ponto de entrega da energia produzida (uma outra subestação, normalmente da REN);
2º) Para colocar essas linhas, é necessário que existam apoios (vulgo postes), os quais são implantados ao longo do corredor dessa mesma linha eléctrica;
3º) Por norma, não há acessos para os locais desses apoios, sendo que o que é normal fazer é percorrer toda a zona a pé, piquetar os locais por onde irão passar os veículos de apoio à obra, e abrir um pequeno acesso (em largura), depositando as terras sobrantes ao longo desse mesmo acesso, de modo a ser posteriormente usada no fecho do mesmo e na recuperação ambiental da zona.
E aqui é que a "porca torce o rabo", porque, como em tudo na vida, há que ter sensibilidade e bom senso.
Realmente, na sua maioria, os acessos devem ser completamente fechados. Mas, também aqui, como tudo na vida, "não há regra sem excepção", com a agravante de neste caso existirem, ou deveriam existir, diversas excepções. A saber:
- Em certos zonas, as populações locais, idosas na sua grande maioria, costumam percorrer diariamente vários quilómetros para fazer o seu trabalho, quase sempre agro-pecuário. Com a existência de um pequeno carreiro, poupavam algumas horas no dia, muitos km nas pernas e dores nas costas de carregar fardos de palha;
- os promotores dos PE e o país, não perderia tanto em tempo, energia e dinheiro quando existe uma avaria a meio da rede eléctrica, tendo que abrir de novo os caminhos para chegar aos locais onde se situa(m) o(s) problema(s);
- Por último, mas mais imporrtante, esses carreiros serviriam, em primeira instância, como corta-fogos, constituíndo uma barreira à propagação das chamas, e num segundo plano, poderiam ser usados pelos bombeiros para chegar com os seus veículos de combate a locais mais próximos das chamas (como eles agradeciam...), evitando-se desta maneira (não tenho dúvidas absolutamente nenhumas), que ardessem alguns milhares de hectares a menos.
Mas não! nada disto se passa! Qual equino de palas, para a APA, TODOS os caminhos, carreiros e carreirinhos são para fechar. De nada servem pareceres dados, estudos efectuados, análises locais feitas "ao metro", abaixo-assinados das populações via respectivas juntas de freguesia. Nada. Nada serve.
E o resultado é este: Milhares de hectares ardidos, populações com o seu ganha-pão ameaçado, animais sem pastagens, mamíferos, répteis e outros carbonizados. Quem sabe, se até a vida de algum bombeiro não poderia ter sido poupada.
E tudo isto porque não deixaram ficar um pequeno caminho aberto...
É triste. Mas é verdade!!

05/06/10

Os exames do 9º ano

Tem-me feito alguma confusão o ruído que se instalou pela possibilidade, já legislada há algum tempo e não agora, de os alunos retidos no 8º ano de escolaridade terem a possibilidade de se auto-propôrem a exame a todas as disciplinas do 9º ano, e poderem assim passar para o 10º ano.
Segundo o que sei, para terem acesso a esta hipótese os alunos têm que cumprir alguns critérios, entre os quais:
1) Terem 15 anos, no mínimo;
2) Possuírem autorização do encarregado de educação; e,
3) Realizar, com sucesso, exames a TODAS as disciplinas.
Com base nas três permissas anteriores, confesso que não vejo qual o problema de esta possibilidade ser facultada a estes alunos, tal como é a outros de anos posteriores e nas Univesidades.
Porque "carga de água", há-de ser mais fácil fazer não sei quantos exames e obter a respectiva aprovação (ou não) do que efectuar 3 provas, uma por cada período lectivo e assim, também obter a mesma aprovação (ou não)?
Na minha modesta opinião, não é por existir mais do que um meio para chegar ao mesmo fim, que se chega à brilhante conclusão de "existência de facilitismo". Pelo contrário, penso até que estes alunos terão mais dificuldade em obter a respectiva aprovação. Mas, pelo menos, têm a hipótese de escolher...
Como é que se apregoa tão depressa ao "facilitismo", quando ainda nenhum exame foi realizado??
Toda esta discussão poderá fazer sentido, caso os exames não sejam elaborados com sentido de responsabilidade, pedagógico e científico. Tudo o resto, parece-me, é crítica pela crítica.
O princípio é exactamente o mesmo da atribuição de subsídios sociais, tal como o rendimento mínimo: não é a existência deste que está errada ou poderá ser posta em causa, mas sim a fiscalização da sua atribuição. Fazendo um possível paralelismo, não é a existência dos exames do 9º ano que está errada, mas poderá ser, isso sim, o seu conteúdo. E sobre isso, ainda ninguém pode dizer nada, uma vez que ainda nenhum foi realizado.

01/05/10

Este também é teu!

Quem me conhece, e os poucos que me seguem aqui no Pardais ao Ninho e no Até Sabe a Pato, sabem que raramente escrevo sobre essa Paixão que se chama Sport Lisboa e Benfica. Não porque não tenha vontade, muito porque sei que a paixão seria sempre maior que a razão (o que não é, necessáriamente, um mal).
Abro hoje uma excepção nas vésperas de (espero) tornar a ver o Glorioso Campeão. E faço-o, não com sobranceira, mas sim com a convicção e certeza que iremos ser uns justos campeões. Por mais que falem em túneis, castigos, lesões, falsos colos, etc, não há nada que tire o mérito a esta vitória que se avizinha. Mais vitórias, mais golos marcados, menos golos sofridos, maiores assistências, maiores receitas de bilheteiras, etc, etc...
Não estarei amanhã no Porto, estarei na próxima semana na Catedral, tal como estive a maior parte das vezes durante a presente época e em todas as anteriores.
E porque durante este ano, infelizmente, neguei ao meu filho a vontade que este tinha de ir à Luz ver o Benfica a jogar. Esteve lá quando fez três anos, nos jogos de apresentação e não mais que isso. Infelizmente assim teve que ser, uma vez que, hoje em dia não é seguro levar uma criança à maior parte dos jogos.
Mas, no próximo fim de semana, vai ter a sua merecida recompensa, e ver a Catedral cheia de gente alegre, bem disposta, vestida de vermelho e branco com a águia imponente a sobrevoar o estádio e comemorar o seu segundo título desde que nasceu, agora com outra noção do que é o Benfica.
Ao meu filho agradeço por me ter consolado com as suas festas e carinho quando as coisas não correram bem (como em Liverpool);
À minha mulher (sportinguista...), agradeço por me aturar todos os fins-de-semana a gritar pelos golos do Benfica e pelas "pequenas provocações" que lhe fui fazendo;
Ao meu Pai, que já por cá não anda, agradeço ter-me transmitido a noção do "Ser do Benfica", e os Domingos passados na velhinha Catedral, convicto que estará também a comemorar no meio de nós.
Este título também é (vai ser) teu!



16/04/10

Crónicas C’um Caneco - Dia 10

Durante alguns segundos, pairou no ar um ambiente mesclado entre a surpresa, comum aos três, e a aflição de Vanessa em tentar arranjar uma boa desculpa (mas mesmo boa), para estar ali naquele local. Não por Eugénia, mas sim pela presença do Inspector, pessoa que ela nunca imaginaria ali encontrar. Ainda para mais com tudo o que tinha acontecido nas horas anteriores e com o interrogatório a que já tinha sido submetida, e que decorreu bem antes do de Eugénia.
O Inspector Rodolfo, qual camaleão, tornou a transparecer o seu ar altivo, austero e rude, que durante o tempo que tinha acompanhado Eugénia a casa tinha dado lugar a uma gentileza e simpatia nada comum nele.
- Cara D. Vanessa!! Uma grande surpresa a sua presença aqui. Ou, pensando melhor, nem será assim tão grande. Mas antes disso, permita-me que lhe pergunte como entrou nesta casa, com autorização de quem e com que intenções?
Enquanto Eugénia encostava o seu corpo à parede mal caiada da casa, Vanessa com ar atrapalhado e comprometido, tentou fitar o Inspector nos olhos, retorquindo da melhor maneira que lhe era possível:
- Caro Inspector! Realmente é uma surpresa vê-lo por aqui. Por ventura, até maior que a do senhor. O facto é que me desloquei aqui a casa para falar com essa “menina”, uma vez que, ao que parece, ela conhecia muito bem o meu querido e falecido marido. E uma vez que me chegou aos ouvidos que com ele tinha estado na noite passada, queria que ela me explicasse, olhos nos olhos, o que aconteceu e porque cometeu tal acto. O modo como aqui entrei apenas se deve ao facto de ter descoberto uma chave com as iniciais “EE” gravadas. Ora como de burra não tenho nada, essas iniciais só podiam ser de Eugénia Epifânia.
- Cara D. Vanessa! Interrompeu Rodolfo. Antes de mais, permita-me que lhe diga que esta Senhora que aqui está (enfatizando a palavra “Senhora”) não teve nada a ver com a morte do seu marido. E, em segundo lugar, com chave ou sem ela, acabou de entrar em propriedade alheia, que como bem sabe, e uma vez que de burra não tem nada (enfatizando de novo, agora na palavra “burra”), é um crime grave. Num ápice, virou-se para Eugénia e perguntou-lhe: A senhora deu autorização à D. Vanessa para entrar em sua casa?
Eugénia, apenas abanou a cabeça para os lados. Rodolfo insistiu: A senhora deu autorização à D. Vanessa para entrar em sua casa? Respirando fundo, e ainda meio atordoada com a cena que ali decorria, Eugénia soltou um enérgico “Não”.
Rodolfo, dirigiu-se então para junto de Vanessa, agarrou-lhe os dois braços de forma enérgica dizendo-lhe: - lamento mas está detida por invasão de propriedade alheia!
Depois de ter algemado Vanessa, voltou-se e mirou Eugénia com um olhar algo confuso entre o dever profissional e a pena por não poder passar algum tempo mais na sua companhia. Num suave e quase terno tom de voz, pediu-lhe que no caso de se lembrar de algo mais saberia onde o encontrar, e que fosse descansar que o dia tinha sido duro.
Foi uma despedida acelerada que nenhum dos dois estava à espera. Cruel mesmo...

(Continua um destes dias...)

10/04/10

Diné Bikeyah - the land of the People

 Diné Bikeyah is the land of the People. Diné Bikeyah exists in the heart of the Diné as hozhoogi - the beauty of life.
Diné Bikeyah also lies between the peaks of four Sacred Mountains.

Morning Spirit Song

The Morning Spirit song sings of the abundance
and wealth of the morning,
when the warmth and light of day come with all
its glory, when all is possible and potential.
 
You feel the water of life running
over your feet and the soft
wet earth beneath your feet.
 
You begin to walk
through the white corn fields as the pollen blesses you
with the sacred seed of Life.

You feel the good above you, below you,
in front of you, behind you
all around you

(Then the drumming shifts)
 
Now you are walking into the
twilight
 
into the darkness, into the night
bringing with you virtue and spiritual abundance gathered
during the sacred day.

The stars begin to come out.
This is the good way, the blessing way."

sung by Billy Yellow 2002
translated by Jeremiah Harvey

03/03/10

As máfias de Deus e as outras

É conhecida a religiosidade dos mafiosos sicilianos bem como de agentes de profissões análogas, como passadores de droga, traficantes de armas e proxenetas, meros exemplos da harmonia entre o crime e a superstição.
Quando, há algum tempo, a cantora pop Madonna foi à Rússia e se fez coreografar numa cruz logo as poderosas máfias autóctones a intimidaram e chantagearam com ameaças aos dois filhos e marido.
Surpreende os incautos ver máfias e Vaticano do mesmo lado da barricada, defensores dos bons costumes e do respeito pela iconografia de que a religião se apropriou.
Entre 1979 e 1982, cinco cardeais referidos no inquérito do IOR (Banco do Vaticano) e do Banco Ambrosiano, com a média de 69 anos de idade e gozando todos de boa saúde, esqueceram-se de respirar. Sucedeu-lhes o mesmo que a João Paulo I cuja imprudência de revelar que iria fazer um inquérito ao IOR logo alertou Deus para a necessidade de o chamar à sua divina presença, como soe dizer-se em jargão religioso.
Em vida de João Paulo II, enquanto foi possível conservá-lo, a Santa Aliança (agência de espionagem do Vaticano) teve um papel muito activo na venda de armas à Argentina, durante a Guerra das Malvinas, no desvio de fundos do IOR para o «Solidariedade», de Lech Walesa e na lavagem de dinheiro da droga e de outras pias actividades.
O arcebispo Paul Marcinkus, Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, este último lavava dinheiro de heroína, tiveram uma relação íntima com Paulo VI, João Paulo II e cardeais da Cúria num triângulo que envolvia o IOR, o Banco Ambrosiano e a falsa loja maçónica P-2.
Foi Licio Gelli quem apresentou Somoza a Roberto Calvi. A Nicarágua converteu-se em refúgio seguro para o dinheiro «B» do Vaticano e o IOR, em troca, pagou grandes somas ao ditador.
A falência do Banco Ambrosiano só não causou maiores danos ao Vaticano porque são antigas as nódoas e tão frequentes que qualquer canonização lhes serve de lixívia. Mas custou muito dinheiro ao Papa.

Fonte: A Santa Aliança - Cinco séculos de espionagem do Vaticano, de Eric Frattini.

17/02/10

Os 7 sapatos sujos - Mia Couto

Os Sete Sapatos Sujos
"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:
- Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros;
- Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;
- Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo;
- Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;
- Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
- Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça;
- Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."

29/01/10

Crónicas C’um Caneco - Dia 9

Uma vez chegados à entrada do antigo edifício onde Eugénia vivia, cujas rachas na fachada principal se assemelhavam a separados lábios a pedir ajuda para sarar aquelas feridas, Rodolfo abeirou-se daquela mulher, colocou-lhe um braço por cima do ombro direito, apoiando a mão na parede, e numa profunda inspiração disse-lhe, quase em tom de sussurro, que estava entregue e em segurança. Eugénia, pela primeira vez desde que este maldito Domingo tinha dado sinais de vida, sentiu-se, agora sim, realmente detida. Presa. Amarrada. Aquele braço, que nem sequer estava em contacto com o seu corpo, emitia uma energia atrativa de alta intensidade emocional. Completamente magnetizante. Por alguns instantes a figura de Tobias não lhe toldou a mente.
De modo algo envergonhado, mesmo com algum embaraço, arriscou convidar o Inspector para um café, fazendo figas para que ainda houvesse algum na lata, onde o costumava misturar com xicória.
O Inspector Rodolfo parecia que estava já à espera daquele convite, tal foi a rapidez com que o aceitou. Foi, igualmente, uma forma de aliviar a tensão que se tinha apoderado de Eugénia, mulher habituada a lidar, desde há muito, com todo o tipo de homens, mas que, por alguma razão que lhe estava a passar completamente ao lado, não estava a conseguir dominar a situação que se lhe deparava.
Após um ligeiro impasse, que passou pela atrapalhação com que Eugénia passou por baixo do braço, que Rodolfo, teimosa e propositadamente tinha deixado ficar encostado à parede, lá subiram os dois, até ao segundo piso, pelas velhas escadas de madeira.
Como sempre acontecia, Eugénia Epifânia teve que pousar a sua bolsa sobre o corrimão, de modo a poder procurar a chave de casa por entre toda a tralha que carregava dentro da mala, tal qual como a maioria das mulheres. Finalmente, e após ter despejado quase tudo cá para fora, lá apareceu a dita cuja. Num ápice, fez ranger a chave na fechadura, rodando-a de forma abrupta e puxando a porta para si, para de seguida a empurrar com uma joelhada e a abrir.
De imediato, soltou um grito assustado. Rodolfo, também apanhado de surpresa com aquele grito, entrou de forma atrapalhada pelo apartamento, onde, ao fundo do corredor, se encontrava Vanessa, a viúva oficial de Tobias, naquilo que se podia chamar, em gíria, a fazer uma “espera”. Não contava, entretanto, era que Eugénia estivesse acompanhada pelo Inspector da Polícia, a quem naquela manhã, bem cedo, já tinha prestado declarações.

(Continua um destes dias...)

05/01/10

Crónicas C’um Caneco - Dia 8

O entardecer daquele dia em Lisboa estava particularmente bonito. Os últimos raios, alaranjados, de sol trespassavam por entre janelas, varandas e varandins de prédios antigos, realçando as formas minotáuricas esculpidas na pedra, com que algumas destas construções alfacinhas foram brindadas nas décadas de 50 e 60 do século passado. Lisboa, naquele Domingo, encontrava-se ainda mais romântica.
Entre as instalações da Judiciária e o apartamento de Eugénia, distavam apenas cinco ou seis prédios, intercalados por duas pastelarias, uma delas modernaça, daquelas que vendem pão quente a toda a hora, uma taberna típica, do Sr. Alípio, e o quiosque Saphar. Ah, e faltava a Funerária. Aquela cujo dono a tinha batizado de “Cá Te Espero”.
A zona era conhecida tanto por Eugénia, que aí vivia, como por Rodolfo, que aí passava grande parte do seu dia. Os dois caminhavam calma e serenamente pelo passeio estreito, aqui e ali obstruído por carros que teimavam em estar mal estacionados. Por ironia, alguns deles, pertenciam mesmo à polícia...
Rodolfo, como que impulsionado por uma força desconhecida, tinha inventado uma desculpa esfarrapada para com os seus colegas, e tinha aceite a sugestão de Eugénia para que a acompanhasse até ao seu prédio. Os subordinados do Inspector tinham ficado boquiabertos. Pela segunda vez no mesmo dia, foram surpreendidos pelo chefe. Aquele tipo carrancudo tinha passado a cordeirinho em apenas algumas horas de interrogatório a Eugénia Epifânia.
- Não há dúvida! Exclamou Matos Leitão. O nosso Inspector está apanhado. E pela assassina. Agora que vai passar um bom bocado...ai, ai..ui, ui... disso não duvido. Só espero que não lhe “palite” os dentes com um picador de gelo. Lembram-se daquele filme com a loura boa que sabe como cruzar as pernas?
- Simmmmmmmmm, exclamaram os outros agentes! Já conheciam a fixação de Matos Leitão pela Sharon Stone há muito tempo. Até diziam que o Leitão tinha ficado vesgo por isso mesmo, tanta vez o homem já tinha visto (e revisto) a cena do cruzamento de pernas de todos os ângulos. Pensam até que o colar cervical que usou durante duas semanas, há uns anos atrás, a isso se deveu...
Mas eles estavam preocupados mesmo era com o Inspector...

(Continua um destes dias...)