05/01/10

Crónicas C’um Caneco - Dia 8

O entardecer daquele dia em Lisboa estava particularmente bonito. Os últimos raios, alaranjados, de sol trespassavam por entre janelas, varandas e varandins de prédios antigos, realçando as formas minotáuricas esculpidas na pedra, com que algumas destas construções alfacinhas foram brindadas nas décadas de 50 e 60 do século passado. Lisboa, naquele Domingo, encontrava-se ainda mais romântica.
Entre as instalações da Judiciária e o apartamento de Eugénia, distavam apenas cinco ou seis prédios, intercalados por duas pastelarias, uma delas modernaça, daquelas que vendem pão quente a toda a hora, uma taberna típica, do Sr. Alípio, e o quiosque Saphar. Ah, e faltava a Funerária. Aquela cujo dono a tinha batizado de “Cá Te Espero”.
A zona era conhecida tanto por Eugénia, que aí vivia, como por Rodolfo, que aí passava grande parte do seu dia. Os dois caminhavam calma e serenamente pelo passeio estreito, aqui e ali obstruído por carros que teimavam em estar mal estacionados. Por ironia, alguns deles, pertenciam mesmo à polícia...
Rodolfo, como que impulsionado por uma força desconhecida, tinha inventado uma desculpa esfarrapada para com os seus colegas, e tinha aceite a sugestão de Eugénia para que a acompanhasse até ao seu prédio. Os subordinados do Inspector tinham ficado boquiabertos. Pela segunda vez no mesmo dia, foram surpreendidos pelo chefe. Aquele tipo carrancudo tinha passado a cordeirinho em apenas algumas horas de interrogatório a Eugénia Epifânia.
- Não há dúvida! Exclamou Matos Leitão. O nosso Inspector está apanhado. E pela assassina. Agora que vai passar um bom bocado...ai, ai..ui, ui... disso não duvido. Só espero que não lhe “palite” os dentes com um picador de gelo. Lembram-se daquele filme com a loura boa que sabe como cruzar as pernas?
- Simmmmmmmmm, exclamaram os outros agentes! Já conheciam a fixação de Matos Leitão pela Sharon Stone há muito tempo. Até diziam que o Leitão tinha ficado vesgo por isso mesmo, tanta vez o homem já tinha visto (e revisto) a cena do cruzamento de pernas de todos os ângulos. Pensam até que o colar cervical que usou durante duas semanas, há uns anos atrás, a isso se deveu...
Mas eles estavam preocupados mesmo era com o Inspector...

(Continua um destes dias...)


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