23/12/09

Crónicas C’um Caneco - Dia 7

A sala da PJ, de um momento para outro, ficara vazia. Apenas Eugénia lá continuava, mantendo o ambiente, ainda relativamente quente. Rodolfo e os seus agentes tinham-se ausentado, momentaneamente, para um compartimento anexo, imune a olhares indiscretos e longe dos ouvidos de toda a corporação. O momento era delicado, contrastando com Rodolfo que estava prestes a partir a loiça toda.
- Foda-se! Exclamou. Nada bate certo nesta história! E nós? O que temos? Nada! Nada!!
- Desculpe Inspector, mas não concordo consigo.
Tobias arregalou os olhos e fitou aquele que era o agente mais velho no activo, e conhecido pelo seu sentido de humor, que utilizava, por norma, nas alturas mais inconvenientes. Matos Leitão era o seu nome. Com ele ninguém conseguia meter uma piada, para além da já gasta promoção a Porco que nunca mais saía. Aliás, nem essa nem a outra. A profissional.
- Acho até que temos muita coisa - continuou o agente Leitão. Senão vejamos: temos um cadáver de um chulo, a sua mulher e a amante. E sabemos que ambas esgalham à noite. Parece-me óbvio que temos 50% de probabilidades de acertar na mouche. Se aguardarmos pelos resultados do laboratório, tenho a certeza que saberemos logo qual delas limpou o sebo ao homem...
- Achas? Perguntou Tobias. Sinceramente, acho que não. Há muita coisa que não joga aqui. Tudo nos levou a crer que tivesse sido a puta. Principalmente depois de termos falado com a mulher da vítima. Agora, e depois do interrogatório à Epifânia, custa-me a crer...De qualquer maneira, acho que temos de interrogar a Vanessa outra vez. Nela tudo foi demasiado óbvio. Principalmente a fazer crer que a amante do marido era a responsável por isto tudo... e se calhar até é! Mas indirectamente. Vais ver que o laboratório me vai dar razão. Antes de eu dar “alta” à Eugénia, pede à toxicologia que lhe faça recolhas. De alto a baixo! – ordenou Rodolfo.
- Mas, mas... Inspector...vai deixar a mulher ir embora?
- Claro que vou! Tudo o que ela disse é perfeitamente plausível e nós não temos nenhuma prova contra ela. A única coisa que tenho a certeza é que ela gramava o chulo à brava. Até demais! E quase que aposto que os resultados da toxicologia a vão ilibar. Ou não...
Rodolfo abriu a porta maciça que separava as salas, e dirigindo-se a Eugénia, colocou-a a par da situação, agora de uma forma já mais simpática do que as abordagens anteriores.
- Quando quiser pode sair. Pedia-lhe apenas que aguardasse alguns minutos para a nossa equipa médica lhe faça alguns exames e proceda a umas pequenas recolhas de material para análise. Pressuponho que o fará de forma voluntária, não?
- Claro que sim, Inspector. Agradeço-lhe até! Já agora, e se me permite a pergunta, essas análises vão revelar o porquê de eu não me lembrar de nada do que se passou ontem à noite?
- Vamos ver, vamos ver! Entretanto, se precisar de alguém para depois a levar a casa, diga-me que um dos meus homens encarregar-se-á disso.
- Não, Inspector. Não é preciso. Eu moro aqui bem perto, como sabe. Vai-se bem a pé. Agora se o Inspector me quiser acompanhar, de certeza que não recusarei tão calorosa oferta...
As pernas de Rodolfo tremeram que nem as de um poldro acabado de nascer! Não esperava por uma sugestão daquelas! Aliás, aquilo era mais um convite descarado do que uma sugestão...E, por outro lado, já tinha combinado com os colegas ir beber uns “birinaites”, mas...

(Continua um destes dias...)


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