10/10/09

Crónicas C’um Caneco - Dia dois

Depois de um banho mal amanhado, que apenas serviu para que ficasse, ainda mais, a questionar a sua dupla e cruel existência, Eugénia Epifânia vestiu, apenas e com desleixo, uma camisa XL beije sob a tez branca, tornando-a ainda mais pálida do que realmente estava.

Após o telefonema “da outra”, e sabendo que a polícia não tardaria a bater à porta, ainda pensou em pegar na velha mala, que por tantas batalhas tinha passado, despejar lá para dentro a (pouca) roupa que tinha e que se encontrava nas gavetas da cómoda, e fugir. Mas assim não poderia saber, pelo menos tão depressa quanto a curiosidade de uma mulher o permite, porque quereriam falar com ela e, mais importante, o que é que Tobias tinha a ver com o caso. Sim, porque para ser Vanessa a ter-se dado ao trabalho de lhe telefonar, é porque o Tobias estava metido em alguma confusão, que não deveria ser tão pequena quanto isso. E, de qualquer maneira, iria dar à sola porquê? Não tinha feito nada de mal! Bem, pelo menos que se lembrasse...É que aquela janela de 4 horas da madrugada anterior continuavam a ser um profundo buraco negro de lembranças.

Enquanto fumava “um pensativo cigarro”, ouviu a porta da rua brotar um esgar de dor, enquanto uma voz alta, firme e clara ordenava que abrisse a porta. Tinha chegado a polícia. Nervosa, com a beata trémula entre os amarelecidos dedos, abriu a porta, deparando-se com um tipo que nada tinha a ver com a voz que instantes antes ecoava pelo sala. Era Rodolfo. O Inspector Rodolfo da Judiciária, ladeado por mais dois agentes, ambos de casaco de cabedal rafado, e barba de três dias, a contrastar com a delicadeza da aparência do Inspector.

De imediato um gélido arrepio galgou toda a espinha de Eugénia. Alguma coisa lhe dizia que tempos problemáticos se avizinhavam. E não seriam financeiros...

(Continua...um destes dias!)


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