07/10/09

Crónicas C’um Caneco - Dia um

Eugénia Epifânia tinha acordado confusa. E dorida. Se a sensação de evasão mental tinha uma explicação lógica, ainda que não imediata, já a profusão de dor após o último par de costelas causava, mais que estranheza, preocupação.
Eugénia, bem olhou para o fundo e em redor dos seus aposentos, na esperança de decifrar alguma pista ou que algo lhe iluminasse o que poderia ter ocorrido na obscuridão em que se tornaram as últimas quatro horas da sua, já por si, desregrada vida, tal como seu pai a costumava, de forma simpática apelidar. Mas nada. Nada mesmo. A última (e única) coisa que se lembrava foi de dizer a alguém que aquele copo de final de noite é que lhe tinha feito mal. E de o repetir, vezes sem conta. Depois disso era uma imensa branca.
Os raios de sol penetravam, quais flechas lancinantes os seus olhos amêndoa, que herdara da mãe, através da primeira fiada de frinchas de um mal amanhado estore, que já não tinha a companhia do vidro da janela, partido numa das últimas discussões com o marido, amante e chulo, Tobias.
Tobias era o seu homem. O Homem, ora com agá grande ora com agá pequeno. O papel que representava na sua vida variava conforme os humores deste ou dos dias da semana. Certo, certo, é que entre segundas e quintas Tobias não aparecia. Mandava um dos seus “Streetdogs” fazer a coleta do que Epifânia tinha amealhado nessas 3 noites.
Mas aquela era uma manhã dominical. Por norma, Tobias costumava estar a seu lado nos dias santos. Mas por que raio não estaria naquele? Esta dúvida seria mais tarde desfeita, da pior maneira possível, através de uma chamada da esposa de Tobias que a avisara que a “bófia” estaria a caminho de sua casa, para lhe fazer “umas perguntinhas”. O tom de voz de Vanessa, embora preocupado, não escondia uma certa satisfação de alguma forma escabrosa. Vanessa era um dos vértices do triângulo da vida de Epifânia e de Tobias. O vértice oficial.
A confusão instalava-se e estalava cada vez mais a cabeça de Epifânia. O que quereria a “judite” saber dela? Porque telefonaria Vanessa? Onde estava Tobias? O que teria acontecido naquelas últimas horas? E porque raio lhe doíam os quadris?
(Continua...um destes dias!)

1 comentário:

O ovo estrelado disse...

...absolutamente fascinante!!!acho que o mistério tem que continuar a bem da prosa de génio! Pergunto-me também se não terá sido aquele pedaço de sabão azul e brancoque se lhe escapou das mães enquanto fazio a profilaxia conra a gripe H1N1, e que pelo azar dos azares caíu ao chão!? será esse o nexo de causa para tamanha indisposição física!!...ou será que o mistério é mais intrincado!?